DE UN BEIJO BRANCO A UM MAIS ESCURO
Não me abrace na rua
Não me diga “te adoro” na frente dos meus amigos,
vão me zoar se te respondo
eles sabem que sou uma cachorra
que não se deixa amar.
Sabem também, que as vezes,
dou voltas numa cama
e de repente amanheço em outra.
Não me abrace na rua,
vai me vexar reconhecer que sou tua
porque antes de ti
fui de Pedro,
de Samuel,
de Gustavo
e não quero que me tachem de gata insaciável.
Não me beijes diante dos meus irmãos
porque te perguntarão
se já passamos de um beijo branco
a um mais escuro
ou de que tamanho são seus pés.
Meus irmãos são imprudentes,
não tente agradá-los.
Não me pergunte se creio no casamento
porque até as flores sabem
que faz um tempo me casei com o HPV
e a doença nunca me deu o divórcio.
Não diga que me ama
se ainda não conhece
a cicatriz que guarda meu pescoço,
se ainda não sabe que aos seis anos
fui violado pelo meu tio
e depois pelo meu vizinho
e aos doze todos os da minha quadra
se masturbavam em mim,
e aprendi a guardar silêncio.
Se não está disposto a lidar
com meus quatro homens,
não se aproxime tanto de mim.
Elvis Guerra
Traducción al portugués de Paula de Paula y Roberto Amézquita
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