DIÁRIO DE UM FESCENINO
1º de janeiro
Decidi, neste primeiro dia do ano, escrever un diário. Nao sei que razoes me levaran a isso. Sempre me interessei polos diario dos outros, mas nunca pensei em escrever um. Talvez despois de considerá-lo terminado -quando?, que dia?- eu o rasgue, como fiz com um romance epistolar, ou o deixe na gaveta, para, despois de morto, os outros-nen sei quem serao, pois nao tenho herdeiros-resolverem o que fazer com ele. Ou, entao, pode ser que eu o publique.
"O bom diarista", disse Virginia Woolf, "é aquele que escreve para si apenas ou para uma posteridade tao distante que pode sem risco ouvir qualquer segredo e corretamente avaliar cada motivo. Para ese público nao há necessidade de afetaçao ou reatriçao". Nao me imporei restriçoes, porém sei que estarei sendo influenciado de várias maneiras, ao considerar a hipótes de ser lido pelos meus contemporâneos. Os autores de diários, qualquer que seja sua natureza, íntima ou anedótica, sempre escrevem para serem lidos, mesmo quando fingem que ele é secreto.
Rubem Fonseca
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