LEMBRANÇA
Despedida
Para Brites, preteritamente
Quem conhece o umbral de cada hora?
A nossa foi da essência
límpida e transparente
(Quando eu em ti não penso
a tua ausência relumbra
E quando penso em ti
meu relógio te chora)
Quem conhece o invés de cada hora?
Só, na borda do ar
teu perfil se sustenta
e o seu cristal me fere
retendo a minha lenta
lembrança do teu ser
como concha sonora
Quem conhece o já foi de cada hora?
Mas eu sou dessa carne
que persegue os espinhos
Sei mudar em sorriso
o soluço que aflora
E sei os vendavais
que contém um suspiro
E conheço o Passado do Futuro
do doce adeus sem fim
da Nossa Hora!
Caracol ao Pôr-do-Sol
Ernesto Guerra da Cal
Estoril, 15 outubro 1988
Pintura de Leon Spilliaert
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