As cabras
Por toda a parte onde a terra for pobre e alta, elas aí estão, as cabras - negras, muito femininas nos seus saltos miúdos, de pedra em pedra. Gosto destas desavergonhadas desde pequeno. Tive uma que me deu meu avô, e ele próprio me ensinou a servir-me quando tivesse fome,
daqueles odres fartos, mornos, onde as mãos se demoravam vagarosas antes da boca se aproximar, para que o leite não se perdesse pelo rosto, pelo pescoço, pelo peito até, o que às vezes acontecia, quem sabe se de propósito, o pensamento na vulvazinha cheirosa. Chamava-se Malteza, foi meu cavalo, e não sei se a minha primeira mulher.
Las cabras
Goats
Wherever the earth is crag and scrub, the goats are there—the black ones, girlishly skipping, leaping their little leaps from rock to rock. I’ve loved their nerve and frisk since I was small. Once my grandfather gave me one of my own. He showed me how I could serve myself when I got hungry, from the full-feeling bags there like warmish wineskins, where I’d let my hands linger some before bringing my mouth close, so the milk wouldn’t go to waste on my face, my neck, even my naked chest, which did happen sometimes, who knows if on purpose, my mind dwelling all the while on the savory-smelling vulvazinha. I called her Maltesa; she was my horse; I could almost say she was my first woman.
Poema de Eugénio de Andrade
Pinturas de Marc Chagall
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