Broadway, very late

Os arranha-céus
se perdem
num tecto
de gazas frias
As janelas
cospem noite
cheia
de
estenografias


E
eu
sonambulo
sorumbático
e
lunático
na esquina triste
e
absurda
da minha errática vida
semi-calva
catedrática
e
bem estabelecida

(As pernas da minha sombra
com susto duma luz viva
guindam-se pelas paredes
querendo alcançar o céu)

E vagueando
vou pensando
Que diabos faço eu aqui?
Se ao menos fosse judeu
ou
lampantim irlandês
ou
um loiro luterano
de carne de bacalhau
puritano
Mas
eu sou Peninsular
e
solar
filho de Nossa Senhora
e
do herege Prisciliano
e
Católico
Apostólico
Compostelano
Que pinto eu por estas ruas
no asfalto
a caminhar?

(Já devem ser mais das duas.
E eu, coitado, com este ar
fantasmal e tresnoitado)

Como a gente vai cair
numas terras
ou num mar
como folha de jornal
que leva
leviano
o
vento
sem cuidar
nem preguntar
qual seja o seu pensamento!
Mas
afinal
se o pensarmos
sempre se vive como hedra
apegado a qualquer pedra
mae
mulher
cidade
ou
lar
E
em verdade
deste ou qualquer outro modo
o mundo universo todo
é sempre o mesmo lugar
Fatal mesmice das coisas!

                    (Consolado –
                                 continuo a passear)


Broadway, muy tarde

Los rascacielos
se pierden
en un techo
de gasas frías
Las ventanas
escupen noche
llena
de
estenografías

Y
yo
solo
sonámbulo
taciturno
y
lunático
en la esquina triste
y
absurda
de mi errática vida
semi-calva
catedrática
y
bien establecida

(Las piernas de mi sombra
con el susto de una luz viva
se elevan por las paredes
queriendo alcanzar el cielo)

Y vagando
voy pensando
¿qué diablos hago yo aquí?
Si al menos fuese judío
o
tratante irlandés
o
un rubio luterano
de carne de bacalao
puritano
Mas
yo soy Peninsular
y solar
hijo de Nuestra Señora
y
del hereje Prisciliano
y
Católico
Apostólico
Compostelano
¿Que pinto yo por estas calles
solo
en el asfalto
caminando?

(Ya deben ser más de las dos.
Y yo, infeliz, con este aire
fantasmal y trasnochado)

¡Como alguien va a caer
en unas tierras
o en un mar
como hoja de periódico
que lleva
liviano
el
viento
sin cuidar
ni preguntar
cual es su pensamiento!

Mas
al final
si lo pensamos
siempre se vive como hiedra
pegado a cualquier piedra
madre
mujer
ciudad
u
hogar

Y
en verdad
de este o de cualquier otro modo
el mundo universo todo
es siempre el mismo lugar
¡Fatal homogeneidad de las cosas!

                                    (Consolado –
continuo paseando)






Rio de sonho e tempo.
Ernesto Guerra da Cal

Pinturas de César Galicia

Comentarios

Publicacións populares