Sim não?

Sim não? Esta pregunta surgiu-me de chofre no sono profundo e acordou-me. A inércia nun instante, o corpo morto levanto-se rápido, como se fosse impelido por um maquinismo.

Sim ou não? Para bem dizer não era prgunta, voz interior ou fantasmagorio de sonho: era uma  especie de   mão poderosa que me agarrava os cabelos e me levantava colchão, brutalmente me sentava na cama, arrepiado e aturdido. Nma garra segurando-me os cabelos, puxando-me para cima, forçando-me a erguer o espinhaço, e a voz soprada aos meus ouvidos, gritada aos meus ouvidos.- Sim ou não?

Nada sei: estou atordoado e preciso continuar a dormir, não pensar,  não desejar, matéria fria e importente. Bicho inferior, planta ou pedra, nun colchão. De repente a modorra cessou, a mola me suspendeu e a intorrogação absurda me entrou nos ouvidos: -Sim ou não? Encostar a de novo a cabeça ao travesseiro e continuar a domir, dormir sempre. Mas o desagraçado corpo está erguido e não tolera a posiçao horizontal. Poderei dormir sentado?

Um, dois, um, dois. Certamente são as pancadas de um pêndulo inexistente. Um, dois, um, dois. Ouvindo isto, acabarie dormindo sentoado. 

Insónia
Graciliano Ramos


Insomnio e chuvia. Fotografía de © Sam Rock

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