De Noite

Quando me deito ao pé da minha dôr, 
Minha Noiva-phantasma; e em derredor 
Do meu leito, a penumbra se condensa, 
E já não vejo mais que a noite imensa, 
Ante os meus olhos intimos, acêsos, 
Extaticos, surprêsos, 
Aparece-me o Reino Espiritual... 
E ali, despido o habito carnal, 
Tu brincas e passeias; não comigo, 
Mas com a minha dôr... o amôr antigo. 

A minha dôr está comtigo ali, 
Como, outrora, eu estava ao pé de ti... 
Se fôsse a minha dôr, com que alegria, 
De novo, a tua face beijaria! 

Mas eu não sou a dôr, a dôr etérea... 
Sou a Carne que soffre; esta miseria 
Que no silencio clama! 

A Sombra, o Corpo doloroso, o Drama... 


Elegias
Teixeira de Pascoaes

Debuxos de Méndez Bringa e Sileno

Comentarios

Publicacións populares