Náufrago acordando

Um homem só na areia lisa, inerte,
tão esquecido de si, que tudo o envolve
em halos de silêncio e nevoeiro.
Um homem de olhos fechados, procurando
dentro de si memória do seu nome.
Um homem na memória caminhando,
de silêncio em silêncio derivando,
e a onda
ora o abandonava, ora o cobria.

Com vagos olhos comtemplava o dia.
Em seus ouvidos
como um longínquo búzio o mar zunia.
Líquida e fria,
uma mão sobre os seus membros escorria:
era a onda,
que ora o abandonava, ora o cobria.

Um homem só na areia lisa, inerte,
na orla dançada do mar.
Nos seus cinco sentidos, devagar,
a presença das coisas principia.



 Sophia de Mello Breyner Andresen

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