Guerra-No
Na noite inacabada
dos derradeiros tiros
da vaga madrugada
dos derradeiros tiros
da vaga madrugada
quase calma
toco o meu camarada
aqui
ao meu lado
na trincheira avançada:
Morto!
E quero preservar
no arquivo da minha alma
a sua cara
Não a cara fechada
já desactualizada
do seu agora
frio
senão aquela outra
que tinha sempre aberta
em perene risada
quando vivo
Não posso
E fico absorto
E vejo que no mundo não há nada
mais cruelmente difícil de fixar
que um rosto vivo
morto
E essa certeza gélida
marmórea
me fere no recanto mais intimo
do espaço limpo
do espanto branco
da desmemória
Ernesto Guerra da Cal
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