NA PENUMBRA DO CUARTO


Ocorre-me tropeçar

Ocorre-me tropeçar em ti num linha
que escrevi noutra idade – tão discreta
é a tua presença que ninguém
a não ser eu te poderá descobrir.
E sinto-me grato, como tambén o estou
ao gato do quintal ou às gaivotas
que esgravatam em tantos versos meus
á procura de sol fresco para alimento.
“É o seu peito, a sua boca” digo então,
e na penumbra do quarto por instantes
brilha de novo o corpo do desejo.


O sal da língua
Eugénio de Andrade

Fotografía de © Pia Johnson


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